Voltamos aos tempos das cavernas?

Bettyna Gau Beni
Consultora e cofundadora da Evoluigi

Eu, cá com meus botões (para os mais novos, esta expressão, usada pelos meus pais e avós quando eu ainda era pequena, significa pensar, refletir), fico aproveitando o tempo ‘extra’ (que parece ter nos sido dado de presente pelo universo) da quarentena para observar os efeitos da pandemia do coronavírus em nossas vidas, e penso que podemos, sim, em certa medida, considerar que voltamos aos tempos da caverna. Não somente a caverna física que certamente encontramos em nossos lares, dada a obrigatoriedade do distanciamento social, mas também faço referência à caverna dentro de nós.

Nunca antes eu havia passado por um momento onde, mesmo com toda a disponibilidade da tecnologia para encontros virtuais, eu me voltasse tão pra dentro de mim mesma. E eu não poderia imaginar o bem que isso me faria.

Todos nós temos necessidade de caverna em algum momento de nossas vidas. Estar nela, olhar para dentro de nós mesmos, nos torna mais fortes. Mas, por algum motivo, insistimos em sair rapidamente, muitas vezes não suportando a nossa própria presença, a dor que nos causa ficarmos sozinhos ou nos sentindo privados de liberdade. Ah, se tão somente fôssemos capazes de aproveitar mais esse momento único, seríamos mais competentes para, ao sairmos, apreciarmos a beleza de tudo o que há lá fora, entendendo profundamente as conexões, as alegrias, as tristezas, os desafios, as oportunidades que sempre estiverem à nossa volta mas que nem sempre fomos capazes de valorizar.

Sim, lá fora também enfrentaremos perigos, a exemplo desse vírus, um inimigo que nem ao menos podemos enxergar. Mas o que normalmente nos causa mais medo está dentro de nós, e não fora. São nossas sombras na parede, são nossas amarras, nossas crenças limitantes. Uma leitura que recomendo é ‘A Alegoria da Caverna’, de Platão (https://pt.wikipedia.org/wiki/Alegoria_da_Caverna#Mito_da_caverna). Um grande convite à reflexão!

Por outro lado, a caverna vivida no filme ‘Os Croods’ (https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Croods), onde, em um contexto mais descontraído, percebo uma alusão ao que vivemos hoje, com as famílias todas em casa, saindo somente para buscar alimentos, e que, ainda que com o medo dos grandes monstros que habitam lá fora, se veem forçados a buscar uma vida diferente e encontram muito mais significado para sua existência.

Penso que a caverna está nos convidando para momentos diferentes, de mudanças, de expansão de consciência, de resignificação de tudo o que já fomos ou já vivemos.

O ‘novo normal’, termo que agora é frequente em todos os meios de comunicação, talvez nunca exista. Tenho me permitido pensar constantemente na beleza e na verdadeira disrupção que o momento nos traz… um mundo de possibilidade se abre à nossa frente e, ainda que nos vejamos forçados a ficar dentro de nossas cavernas por mais algum tempo, em breve sairemos.

E você, já pensou em como será o seu mundo, o seu ‘novo normal’, quando puder sair da sua caverna? Que mudanças e que novos significados trará para sua vida?

Faça o que fizer, somente não escolha ficar parado. Movimento é vida, e é perfeitamente possível estar em movimento, mesmo dentro da caverna.

*Artigo originalmente publicado em: https://observatoriodacomunicacao.org.br/tag/bettyna-gau-beni/

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