Carreiras Reais: Eurico, um artista autenticamente do mundo

Bettyna Gau Beni
Consultora e cofundadora da Evoluigi

O bate papo com Eurico começou assim como ele é: sem muitas regras, não necessariamente de forma cronológica ou linear.

Ele me contou que muitas coisas passaram por sua cabeça quando foi fazer vestibular. Pensou em Engenharia, porque gostava de montar e desmontar as coisas. Por algum motivo que ele não sabe explicar, pensou também em fazer Medicina. Outra opção foi Publicidade e Propaganda, o que acabou sendo a sua escolha. Eurico imagina que aí já tinha uma centelha do mundo das artes, onde acabou, por fim, se encontrando. Mas chegaremos lá.

Bem, ele estudou Publicidade e Propaganda na PUC. Foram 4 anos de muita realização! Dias de glória com uma vibe (energia) que ele gostava muito e com a oportunidade de criar. Foi ele quem apresentou o projeto experimental do curso, o que fez com que ganhasse um prêmio, entregue na Pachá (uma casa noturna que foi muito famosa em Campinas), por Astrid Fontenelle! Que orgulho!

Quando se formou, foi convidado a trabalhar em uma grande agência em Campinas.

“Acho que o sucesso me subiu à cabeça, porque não aceitei.”

“Eu quis montar minha própria agencia e montei. A vida fluiu por um tempo sem grandes percalços e alguns bons clientes até que um desarranjo afetivo tão intenso me fez até mudar de país.” Uma das experiência mais gratificantes de toda a vida do Eurico, que me falou desse ‘episódio’ num só respiro.

Mas não sem antes fazer a sua pós-graduação na ESPM, onde teve um insight em uma aula de Fator Humano, com o professor Ricardo Farah, importantíssima presença na jornada dele.

“É preciso que morra a lagarta para dar vez à borboleta…”

Foi aí que decidiu ir embora. Começou a pesquisar as possibilidades em diversas fontes, porque a internet não era disponível naquela época como é hoje, trabalhou um mês na editora Abril, conseguiu os seus certificados Toefl e GRE, mais importante e extremamente mais difícil, pois não é um ‘vestibular’ de línguas, mas de matemática, interpretação de textos, lógica, etc. E, admitido em Michigan, foi embora!

A viagem aos Estados Unidos foi muito feliz, um período em que Eurico se sentiu muito livre, muito verdadeiro. Era um lugar totalmente novo, novas experiências, sem julgamentos, sem passado… só o presente e o futuro.

“Você precisa se construir do zero de novo. Foi um processo muito forte, principalmente intelectualmente.”

A aceitação, o entendimento da importância dos estudos e dos valores morais, a vergonha de tentar colar em uma prova… Eurico aprendeu a fazer pesquisa, a produzir ciência. Usou e abusou de todo o seu intelecto, aprendeu sobre a cultura do mundo, das pessoas, da sabedoria de algumas delas… tudo isso o impactou muito.

Eurico conta que teve ajuda financeira de seu pai para viajar. E também precisou de determinação e da ajuda de alguns tios para convencer os seus pais a deixá-lo ir.

Seu primeiro trabalho nos Estados Unidos foi na cozinha. Ele vivia em um dormitório com 800 pessoas e trabalhava para a cozinha do lugar. Foi eleito para outro papel importante naquela comunidade, como uma espécie de ‘gestor’ com várias responsabilidades, entre elas organizar eventos para os moradores, manter um ambiente saudável, informar sobre importantes acontecimentos do Campus, interceder em eventuais conflitos, entre outros. Com isso ampliava sua renda e podia ainda contar com um quarto duplo para si mesmo e um crédito significativo no refeitório.

“Minha namorada que me fez ir, me fez voltar.”

Eurico voltou ao Brasil para visitar a família e reencontrou uma antiga namorada. O amor voltou, ela viajou para ver a formatura dele nos Estados Unidos e foi então que ele decidiu voltar de vez para o Brasil. O relacionamento terminou definitivamente um ano após o seu retorno. Ironias à parte.

“Eu tinha um sonho de carreira, mas sempre tive o comportamento meio contestador, sou ruim com regras.”

Ao voltar ao Brasil, começou a trabalhar em uma empresa de pesquisa, para o mesmo professor que o indicou para Michigan. Pesquisa exige rotina, processos extremamente estruturados, tudo muito certinho. Como uma pessoa naturalmente contestadora e que busca a inovação, a experiência não deu certo para Eurico. Talvez naquela época as empresas não estivessem tão preparadas e abertas a perfis como o dele, por isso de uns 10 empregos que teve na vida, foi demitido de 8.

Uma reflexão de Eurico à medida que evoluíamos na conversa:

“Engraçado porque nos Estados Unidos eu aplicava a regra. Tinha a necessidade de fit in (me encaixar)… Mas mesmo dentro da caixa, eu conseguia dar vazão à minha veia de artista.”

Mas ele somente começou a acreditar que é um artista a partir do comentário da amiga Paula Franceschini, com quem conversou sobre a sua iniciativa Ficção na REALidade (https://ficcaonarealidade.com.br/). “Cê sabia que você é artista, né?”

Ele não sabia, mas desconfiava, pelo que me disse. Sempre quis uma forma mais verdadeira de se expressar, sem as amarras do cotidiano. Talvez tenha se aproximado mais da liberdade e da expressão autêntica ao acolher o endosso da amiga, que a propósito, toca um belo piano.

A Ficção na REALidade, uma iniciativa de desenvolvimento humano e pessoal através da leitura e debate a partir de livros de ficção, foi amadurecendo e evoluindo, passando a ficar menos protocolar e estruturada.

Um momento de consagração foi subir ao palco do Google for Startups Campus, em São Paulo, a convite de outra amiga, Isabela Cecatto, para somar ao projeto O Poder da Colaboração, uma iniciativa que já estava em sua 16ª edição, filmada, transmitida pelo Youtube, enfim… um momento em que Eurico se sentiu mais empoderado.

“Não é qualquer empresa que compra a Ficção na REALidade. A novidade, a disrupção, apesar de encantar, ao mesmo tempo assusta. É um paradoxo interessante, não acha?”

O papel do artista é essencialmente disruptivo. O artista tem que incomodar. Eurico entende que por isso nunca foi um publicitário de sucesso. O objetivo do seu trabalho nunca foi atingir as massas. A publicidade as vezes parece o perfeito antagonismo da criatividade, mas o Eurico sempre quis estimular as pessoas a pensar, extrair reflexões a partir de narrativas fictícias.

“Excentricidades surgem no mundo das artes.”

E, assim, Eurico segue com suas excentricidades, trazendo à vida o Eurico Escritor, para além da Ficção na REALidade, que continua existindo, mas que serviu como um trampolim para colocá-lo em conexão verdadeira com a arte literária, que é quem ele é.

Um grande amante da leitura, fundamental para quem é escritor, hoje Eurico começa também a atuar com biblioterapia, que usa os conceitos da Ficção na REALidade, a terapia através dos livros, mas com um olhar individualizado.

Quando perguntei se Eurico já se considera uma pessoa realizada e de sucesso:

“Estou no caminho. Uma história sendo contada.”

Uma dica para quem se permitir ser incomodado pelo Eurico?

“Leia um bom livro de ficção. Estude e se permita viver fora da sua bolha.”

Santa Paula! Talvez ela não saiba a contribuição que deu ao mundo ao validar Eurico como artista. Somente quem o conhece, como pessoa, como autor ou como facilitador com a Ficção na REALidade, sabe!

Quer conhecer um pouco mais do Eurico? Visite o seu perfil.

Bettyna Beni é Mentora de Vida & Carreira.  Sócia e consultora na Evoluigi. Sua paixão é apoiar pessoas na jornada do autoconhecimento para que elas cuidem da vida pessoal e da carreira, com olhar atento às saúdes emocional, espiritual, física, financeira, social, intelectual, familiar e profissional.
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