Carreiras Reais: Fabi, valorizando experiências diferentes e o aprendizado acima de tudo

Bettyna Gau Beni
Consultora e cofundadora da Evoluigi

Sabe uma daquelas pessoas com quem você se identifica logo de cara? Foi assim que conheci Márcia Fabiana, a Fabi, há mais de 20 anos.

Ela me contou que começou a carreira lá de criança, como bailarina. Gostava muito de dançar e, quando teve que escolher a faculdade, não teve dúvidas: educação física, porque ela entendia que era o que mais tinha a ver com dança. A paixão pela dança era tanta que ela dava aulas de dança e ginástica muito antes de começar o ensino superior.

Em uma fase que decidiu cuidar de si, partiu para atuação como personal trainer. Cuidou de si e dos outros. Por ter essa vocação de cuidar dos outros, Fabi também atuou na área da educação, com um projeto social. Considera que aprendeu demais ali, porém para ela não deu certo porque ela se viu emocionalmente envolvida com as pessoas, e nem sempre, ou melhor, quase nunca, eram pessoas com histórias felizes. Muito pelo contrário! Foi nesta época que conheceu as histórias mais duras e tristes da sua vida e não deu conta de continuar por muito tempo.

Ao sentir-se depressiva, perguntou-se o que estava fazendo a si mesma. Por um lado, sabia que ajudava muitos jovens a buscarem melhores caminhos. Por outro, sofria todos os dias frente à impotência de afastar todos eles de suas vidas tristes e completamente desregradas, devastadas, destruídas.

“Eu sei que nem todos estão vivos hoje, mas foi gratificante poder ajudar quem queria ser ajudado.”

Fabi me contou como um dos jovens a marcou profundamente: além de sair das drogas, ele pediu para ajudá-la nas aulas. O maior sinal de que ela estava fazendo o certo.

Outro jovem pediu a sua ajuda para sair das drogas e contou para Fabi a sua história, em detalhes.

“Mexeu muito comigo alguém me contar que já tinha roubado, matado, que viu o amigo morrer da forma mais desumana possível…”

Enfim, quando finalmente decidiu sair do projeto social, Fabi ficou sócia da cunhada, com quem abriu uma lanchonete dentro de uma concessionária de automóveis. Uma área muito diferente para ela, mas uma oportunidade de aprendizado. Logo ela já havia assumido o negócio sozinha.

Com o tempo, no entanto, clientes que não pagavam, a complexa arte de fazer a gestão de funcionários e outros problemas surgiram, deixando-a desgostosa. Com o apoio irrestrito do seu pai, Fabi decidiu fechar a lanchonete. Ele percebeu o seu desgaste por lutar tanto para algo que já não fazia sentido algum para ela.

Mesmo tendo ficado quase dois anos fora do mercado de trabalho, ela não se arrependeu. Aproveitou para colocar as coisas em ordem, para repensar sua vida e se fortalecer para os próximos passos.

O tempo passou e Fabi aceitou uma posição temporária na área de telemarketing de uma editora de livros. O seu trabalho foi reconhecido e ela passou a gestora dessa equipe. Nessa nova posição, a sua entrega chamou a atenção de uma gerente da editora, que a convidou para participar do processo seletivo para uma vaga efetiva na área administrativa. E Fabi passou!

“Estou sempre disposta a aprender. Não tem coisa que eu digo que não vou fazer. Se não tiver ninguém para me ensinar, eu vou buscar na internet.”

Por aceitar desafios e não se deixar intimidar, Fabi ficou um bom tempo na editora. Até Excel ela teve que aprender do zero! E o seu trabalho era tão bom que desenvolveu formas de acompanhar importantes dados da área de Business Intelligence e era responsável pelos relatórios de vendas que apoiavam o processo de tomada de decisão do negócio.

Ela só saiu de lá quando ocorreram mudanças na estrutura. Aprendeu com a nova gestão que novos valores estavam sendo priorizados, valores com os quais não se identificava. Sempre fiel ao que acredita e extremamente transparente e sincera, entendeu que estava na hora de ir.

Complicações na saúde de seu pai a fizeram entender que nada é por acaso. Ela teve tempo de ficar com ele para prestar toda a assistência necessária até o final.

Após se recuperar um pouco do seu triste momento pessoal, Fabi foi indicada para trabalhar em um Call Center. Pela primeira vez se viu tendo que bater metas inatingíveis. Entendeu que não era pra ela e novamente percebeu que estava de frente para a depressão. Saiu de licença médica e decidiu que não poderia voltar a trabalhar naquele lugar. Avisou seu gestor para que ele já pudesse trabalhar a sua substituição e saiu.

Mas, ainda durante a sua licença médica foi convidada para trabalhar em outra empresa, desta vez com a retenção de clientes. Fabi conta que a empresa era ótima, que ganhou muitos prêmios, foi bem remunerada, mas entendeu que não estava se adaptando ao trabalho. Sabe aquelas coisas que fazemos mas que, de fato, não estão conectadas à nossa essência? É isso. Só que muitos de nós talvez não tenhamos a coragem que ela sempre teve de olhar pra si mesma, entender e respeitar o que quer.

“Eu estava me dando bem, mas não estava me sentindo bem.”

Novamente teve a coragem de tomar a decisão que precisava. Mas antes planejou a segurança financeira que precisava.

Hoje Fabi diz estar em sua melhor fase. Resolveu voltar a cuidar de si mesma, o que já não estava fazendo há tempos, e me contou que está em uma fase bem egoísta. Entendeu que tudo tem que ser primeiro por ela e para ela. Está aprendendo a dizer “não” e deixando de lado a necessidade de ajudar os outros o tempo todo.

“Acendeu o alerta para eu cuidar de mim.
Já devia ter feito isso lá atrás. Não fiz.
Eu tinha consciência, mas agora eu escolhi.”

Ao pensar na sua trajetória, Fabi diz não precisar ser rica, mas ter o suficiente para viver.

Sobre as diversas mudanças na carreira, sempre entendeu que as pessoas precisam passar por muitas experiências: para a vida, para a espiritualidade, para muitas coisas, e não somente para a carreira.  Bastante espiritualizada, ela entende que todo o aprendizado dessa encarnação é muito proveitoso para ela.

“A minha experiência me ensinou a ser uma pessoa melhor, a ver o que é mais importante. Se eu precisar continuar mudando, eu vou continuar. Não vou ficar só em uma coisa.”

Quando questionada se falta algo a conquistar em sua vida, Fabi diz faltar muita coisa, mais sobre o que ainda quer do que sobre o que ainda precisa. O que ainda precisa é ter a condição de se manter e de estar onde se sinta bem. E sobre o que quer, ela simplesmente quer ser uma pessoa mais feliz.

“Eu sou feliz, mas acabo me influenciando muito pelo dia-a-dia. Não tem chave para desligar, então eu acabo trazendo muito das coisas pra mim. Talvez se eu soubesse fazer isso, eu seria mais feliz.”

E para encerrar a conversa, perguntei o que ela tem de positivo. Ela disse que não depender de estar com alguém para ser feliz, apesar de gostar de se apaixonar, é algo que ela considera muito positivo.

Bettyna Beni é Mentora de Vida & Carreira.  Sócia e consultora na Evoluigi. Sua paixão é apoiar pessoas na jornada do autoconhecimento para que elas cuidem da vida pessoal e da carreira, com olhar atento às saúdes emocional, espiritual, física, financeira, social, intelectual, familiar e profissional.
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