Competências comportamentais e Fortnite: uma relação inusitada?
Bettyna Gau Beni
Consultora e cofundadora da Evoluigi
Parece inacreditável que os jogos digitais possam ensinar e apoiar o desenvolvimento de competências comportamentais, correto?
Mas é a mais pura verdade. Em tempos onde as empresas já buscam novas formas de treinamento para fomentar não somente o desenvolvimento de competências dos colaboradores como também um maior engajamento por parte deles, os jogos corporativos, que não são nenhuma novidade, agora se tornaram mais atrativos no formato digital.
Então, se as empresas conseguem perceber esse valor, por que nós teríamos dificuldade em aceitar essa realidade fora do mundo corporativo? Ainda mais considerando que, mesmo fora desse ambiente, as pessoas que jogam jogos como o Fortnite estão se desenvolvendo e levarão todo o aprendizado com elas? Pois bem, a primeira vez que ouvi um gamer falando sobre isso, há alguns anos, pensei que seria mais do que óbvio que esse seria um argumento para justificar o fato dele ficar o dia todo em frente a um computador, jogando.
Mas a fala dele me chamou a atenção, não somente sobre o desenvolvimento de competências como também sobre a ética existente entre os gamers, principalmente entre os mais conhecidos e famosos, os pro-players, que são como as celebridades de qualquer outro mercado, são muito bem remunerados para jogar e representar a indústria do jogo, enfim, são trabalhadores de um mundo que não existia há bem pouco tempo.
Um mundo que demanda, sim, atitudes éticas, descaradamente expostas em todas as jogadas e onde existe, inclusive, a possibilidade de denúncia do seu perfil, com penas duríssimas como o banimento do jogo. Enfim, voltando às competências comportamentais. Já de início menciono o tão procurado mindset digital. Todas as empresas buscam a transformação digital e quem joga Fornite já tem essa mentalidade ou está em processo de transformação porque o desejo de jogar o mobiliza para o aprendizado.
Aqui entra também o lifelong learning: pessoas de todas as idades e gerações aprendendo, desaprendendo e reaprendendo conforme as regras e objetivos do jogo e o grupo onde estão inseridos. Como o jogo proporciona uma experiência em 3D, e, portanto, algo que nos parece real, em tempo real, com interações reais que conectam centenas de milhares de pessoas ao mesmo tempo, a diversidade e inclusão estão presentes o tempo todo.
Fortnite é um jogo conhecido dentro do gênero battle royale, ou seja, um jogo de batalha, onde os jogadores entram virtualmente em salas de até 100 pessoas para lutar em espaços cada vez menores buscando a sobrevivência. Para isso eles precisam primeiro demonstrar sua habilidade de negociação, pois se querem jogar com os melhores, precisam convencê-los de que são bons e negociar o seu acesso a uma determinada sala.
Então, deverão exercer a liderança e demonstrar empatia para conseguirem trabalhar em equipe, uma vez que sem a atuação efetiva do time, com os membros assumindo os seus papéis e responsabilidades, nada acontece.
E então, com o entendimento de problemas complexos, julgamento e capacidade de decisão, inteligência emocional, criatividade e pensamento crítico poderão rapidamente assimilar as regras do jogo, avaliar os riscos e oportunidades, e seguir em busca dos resultados.
A importância e relevância disso?
São 350 milhões de usuários registrados no banco de dados da Epic Games, proprietária do jogo, e, portanto, 350 milhões de oportunidades para que as pessoas se divirtam muito e, de quebra, desenvolvam as principais competências comportamentais divulgadas no relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o Futuro do Trabalho.
Futuro? Ihhh, acho que ele já está por aqui.