Carreiras reais: A história de Alzira

Bettyna Gau Beni
Consultora e cofundadora da Evoluigi

A conversa com Alzira, minha mãe, começou despretensiosamente em um café da manhã à beira da piscina, numa casa que escolhemos para passar as férias em família, isolados por conta da pandemia.

Comecei com duas perguntas e foi incrível como a história parecia tomar forma diante dos seus olhos:

  • Você se considera bem sucedida?
  • O que é sucesso pra você?

Alzira fez um curso que hoje seria o Técnico de Secretariado. Conheceu o marido, meu pai, aos 24 anos, com quem se casou em 6 meses. Ela me contou que pensou que o pai dela não permitiria o casamento, já que meu pai era desquitado e já tinha duas filhas na bagagem.

Os dois tiveram a oportunidade de fazer a faculdade juntos, quando a vida passou a ser mais estável. Meu pai já tinha uma idade mais avançada para fazer o curso superior (ele era 11 anos mais velho do que ela). Mas ela queria mesmo acompanhar a jornada dele, que, nascido na roça, só teve a oportunidade de realizar o seu sonho após chegar em São Paulo, a chamada cidade grande.

Iniciaram o curso de Direito na cidade de Itapetininga, interior de São Paulo. Na época foi a melhor escolha porque eram poucas opções de cursos e faculdades, e quase nenhuma informação de melhor qualidade.

A decisão de iniciar o estudo superior aconteceu logo após o nascimento da primogênita, minha irmã mais velha. Durante o curso, Alzira engravidou mais duas vezes: de mim, a filha do meio, e de minha irmã caçula.

Ela me contou que foi a única da sua família a fazer faculdade. Seus irmãos somente fizeram cursos técnicos.

Ela também me contou que nós, as crianças, ficávamos com minha avó todas as noites. Sem celular e com estradas ruins, horários apertados entre trabalho e estudos, o esforço para se formar era muito grande.

Mesmo nunca tendo exercido a profissão de advogada, Alzira atuou alguns anos como secretária em empresas multinacionais, quando o mercado de trabalho, e a família, tinham muito preconceito com mulheres que trabalhavam fora. Foi uma carreira de sucesso, que terminou rapidamente ao casar pois a sua escolha foi ficar ao lado do meu pai, que viajava muito por conta do seu trabalho.

Minha mãe disse que com tudo isso se considera muito feliz e bem sucedida.

Para ela, sucesso é isso!

Alzira seguiu suas escolhas e construiu a família que quis, sem nunca lhe faltar nada, tendo ao seu lado, segundo suas próprias palavras, o melhor homem que poderia ter em sua vida.

Meu pai se foi há 14 anos. E, por algum motivo, minha mãe sempre manteve o seu maior sonho em segredo, ao menos para mim. Há poucos meses, quando falei dos meus estudos para uma certificação que eu estava buscando na área do comportamento humano, ela me disse que sempre quis fazer Psicologia.

E por que nunca fez?, foi a minha pergunta. Ah, eu nem sabia o que era na época, mas queria entender sobre o tema porque li algo sobre isso e achava bonito falar que uma pessoa era psicóloga, foi a resposta dela.

Quer maior simplicidade? Aos quase 50 anos de idade eu estou apenas começando a conhecer a minha mãe. Me emocionei e continuo me emocionando com as minhas descobertas sobre ela. Uma mulher íntegra, linda por dentro e por fora, que encontrou nas suas escolhas as melhores escolhas da sua vida.

Fica a reflexão: se nos sentimos felizes e realizados com o que conquistamos, conseguimos, de fato, aproveitar e agradecer?

Bettyna Beni é sócia e consultora de desenvolvimento humano na Evoluigi (www.evoluigi.com.br). Sua paixão é apoiar pessoas na jornada do autoconhecimento para que elas cuidem da saúde mental, emocional, física, financeira e social.
Postagens Recomendadas

Deixe um Comentário