Ambientes confinados: um convite à reflexão
Bettyna Gau Beni
Há pouco tempo fiz uma viagem de navio com minha família. Foi um grande desafio ficar uma semana em um ambiente que considero de pleno confinamento, onde havia a expectativa do glamour e romantismo que, para mim, sempre estiveram associados a uma viagem como esta. Mas…
Com bastante tempo livre, me coloquei a observar toda aquela movimentação de mais de 1.000 tripulantes trabalhando para atender e entreter 2.500 passageiros em um verdadeiro reality show.
Fiquei imaginando os desafios de se criar e manter um clima e ambiente de trabalho minimamente suportáveis (talvez até bom em alguns momentos), com a tripulação proveniente de 20, 30 países diferentes, onde o Inglês é quase sempre a segunda língua, mas o idioma oficialmente usado o tempo todo, com as mais diversas culturas, crenças, etnias, gêneros, necessidades, desejos e motivações. Sem poderem encontrar com suas famílias por meses.
Fiquei observando as mais de 1.000 pessoas trabalhando em diversos turnos, com curtos intervalos para descanso, com quase nada de entretenimento para si, sem poderem frequentar livremente os ambientes comuns do navio, tendo que ser amáveis e com a responsabilidade de criar e oferecer uma experiência única a cada um dos 2.500 passageiros.
Fiz uma reflexão sobre os desafios dos líderes e da área de RH (que estava a bordo!) para contratar as pessoas certas e fazê-las trabalhar bem em equipe, mantendo tudo funcionando para a temporada, atingindo os resultados esperados em um curtíssimo espaço de tempo, sem margem para erros (um erro ali pode ser fatal para os negócios e também pode colocar vidas em perigo!).
O que percebi é que tudo ali funcionava perfeitamente… aparentemente. Mas bastou eu conseguir conversar por dois minutos com alguns dos tripulantes para entender que estas pessoas somente suportavam tudo aquilo pelo dinheiro, pois as famílias precisavam ser sustentadas, mas que, na primeira oportunidade, optariam por sair dali correndo.
Qualquer semelhança com o nosso “mundo real” não é mera coincidência. Diversas pessoas que conheço trabalham em ambientes de pleno confinamento, onde só há tempo para o trabalho (muitas vezes sem prazer algum) e não para a diversão, onde há segregação entre os diversos níveis hierárquicos ao invés de inclusão, onde tudo parece lindo e perfeito mas não é. Esse relato nem combina com o que temos falado e ouvido atualmente sobre propósito, não é mesmo?
Convido você a uma profunda reflexão sobre todos os “confinamentos” a que você se submete ao longo da vida. Valem a pena? Estão alinhados aos seus objetivos? Se a reposta for sim, então siga em frente. Mas se a resposta for um sonoro não, já pensou o que você fará a respeito?